Análise de texto_Resposta modelo 3

O excerto acima apresentado centra-se no caráter subliminal dos anúncios publicitários, e está inserido no capítulo “Ads: Keeping Upset with the Joneses”, de Understanding Media: The Extensions of Man, da autoria de Marshall McLuhan, cujo objetivo é elucidar o leitor acerca do modo como a publicidade se enraizou na sociedade contemporânea e sobre as estratégias através das quais esta assumiu o destaque de que já usufruía à data de publicação da obra. É dada ênfase ao lucro produzido pela indústria publicitária através do estímulo do consumo em massa, que por sua vez permite o financiamento de pesquisa científica por parte dos profissionais da área para apurar conhecimento acerca da experiência coletiva que possa ser assimilado pela própria indústria de modo a gerar mais lucro. Isto significa que se cria, assim, um ciclo vicioso no processo de criação publicitária do qual o consumidor médio não consegue escapar. Através de “imagens-ícone”, o anúncio publicitário é capaz de incorporar uma série de atitudes coletivas, tanto através do seu conteúdo como através dos meios visuais de que se serve para transmitir a mensagem essencial de promoção de produto. Estas imagens unificadas são facilmente compreendidas pela maioria da população, pois comprimem informação de modo a codificar todo o sistema social em vigor. O uso repetitivo e constante de determinadas “imagens-ícone” conduz inevitavelmente a uma homogeneização de preferências e ao desenvolvimento de tendências e padrões de comportamento dos consumidores, o que é benéfico ao sistema capitalista, visto que este sobrevive das trocas comerciais. Enquanto a cultura do livro promovia uma perspetiva privada do mundo, a cultura da imagem (e do audiovisual) remete o indivíduo para o espectro do ícone de grupo. A publicidade serve-se do meio audiovisual para oferecer um estilo de vida que se adequa a todos, pois pode trazer felicidade a qualquer pessoa que se deixe seduzir pelas estratégias de génese de desejo. De facto, o discurso publicitário apresenta-nos uma versão idealizada e dramatizada do mundo (“a dramatization of communal experience”), cada vez mais ao nosso alcance à medida que consumimos aquilo que a publicidade nos propõe.

Outro ponto importante diz respeito ao enfraquecimento da indústria da imprensa, para dar lugar e força à publicidade. Segundo o autor, os conteúdos publicitários tornaram-se equivalentes em importância aos conteúdos informativos, porque passaram a ter um papel relevante a nível económico para a manutenção das publicações. Os produtos promovidos através da imprensa (que à época ainda predominava, mas que atualmente se encontra ultrapassada pelos meios audiovisuais, dos quais se destaca desde há pouco mais de uma década a internet) são condicionados pela participação da audiência. Sem a ação final de compra, a publicidade perderia a sua razão de ser, pois o seu objetivo máximo é gerar lucro para o sistema capitalista através da promoção do consumo em massa. Para melhor controlar o seu público, as imagens publicitárias projetam o consumidor como sendo ele próprio um agente, escolhendo um produto e abdicando de outro, o que lhe proporciona uma sensação de controlo sobre as suas decisões. Porém, como pudemos constatar ao discutir Understanding Media, este é um falso sentimento de poder, baseado numa ilusão de escolha que não é realmente livre. Na verdade, as decisões tomadas pelo consumidor são resultado de estratégias persuasivas de apelo ao inconsciente (“an hypnotic spell”).

A ideia principal do  capítulo Z, onde o excerto em questão se insere, é a de que os anúncios provaram ser uma forma de entretenimento comunitário autodestrutiva (257). Efetivamente, deixamo-nos entreter pela indústria publicitária, mesmo sem que esse seja o nosso desejo primário, pois tendemos a desenvolver interesse pelos discursos propostos e à medida que consumimos os produtos promovidos, tornamo-nos colaboradores essenciais no ciclo vicioso levado a cabo por esta indústria, que produz capital suficiente para continuar a exercer a sua manipulação subliminal sobre a sociedade.

Bibliografia
McLuhan, Marshall. “Ads: Keeping Upset with the Joneses", Understanding Media: The Extensions of Man. pp. 250–257.
https://www.robynbacken.com/text/nw_research.pdf
Acedido a 4 de março de 2020.


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