Análise de texto_Resposta modelo 4
João Rebocho
“Ads are not meant for conscious consumption. They are
intended as subliminal pills for the subconscious (...) Ads (...) are quite in
accord with the procedures of brain-washing.”
Independentemente
da forma como os argumentos de Marshall McLuhan amadureceram desde a sua
conceção, é digna de apreço a qualidade do seu raciocínio, que ao longo do
capítulo em questão oscila de forma irrepreensível entre a crítica e a
admiração. Trata-se de uma escrita com nuances e extraordinariamente neutra.
O excerto destacado revela a
capacidade adaptativa dos grandes empreendimentos publicitários. McLuhan
chama-nos a atenção para a complexidade desta poderosa e portentosa indústria.
Ao longo do capítulo, é frequentemente mencionada a forma como as técnicas
empregues pela indústria publicitária evoluem para não só se adaptarem ao
consumidor, mas também para moldar o próprio alvo. Vem à imaginação a imagem de
uma flecha a ser disparada com o centro do alvo já perfurado pela sua
extremidade. De facto, trata-se de uma relação de simbiose altamente corrupta,
quase parasítica, na qual o hospedeiro depende do parasita. Refiro-me, note-se,
ao advento da cultura de ícones gerada pela inteligência publicitária. Como é
referido por McLuhan, estes ícones cimentaram a associação de produtos
materiais ao status social e aos sentimentos. De facto, a publicidade
manipulou as massas, de forma a criar um ambiente propício à sua própria prosperidade.
Assim, não é a marca que apela ao consumidor; é o consumidor que procura a
marca.
Dos princípios canónicos da
publicidade, um dos mais interessantes é o da repetição. O sociólogo defende
que um pequeno e insignificante padrão vai gradualmente ganhando notoriedade
numa miríade de informações, pelo simples facto de se apresentar com maior
frequência. Esta ideia enquadra-se precisamente na perspetiva de esta indústria
contribuir para o estado acéfalo da metrópole: “Their existence (ads) is a
testimony to the somnambulistic state of a tired metropolis” (253). Por outras
palavras, o aceleradíssimo mundo industrial é um propulsor da sonolência
psicológica da comunidade urbana. Os indivíduos são repetidamente flagelados
por informação sem espaço para descompressão. O raciocínio rende-se ao desgaste
e a atrás-referida apatia torna-se o alívio. Triunfa assim a máquina do
consumo.
Voltando à ideia do aumento da
procura material por questões de status, é também importante referir que
McLuhan, de certa forma, previu a génese da cultura do imediatismo. A
transformação da publicidade em pequenas imagens ou símbolos culturalmente
densos e de grande complexidade (os tais ícones) criados pelos artistas comerciais
treinou o público para resistir ao apelo do antigo modelo, mais extenso e
bronco, predominante na indústria das revistas. Marshal
McLuhan comenta o seguinte a este respeito: “[compared with ads] these magazine
features, that present shots and fragmentary points of view (...), seem pale,
weak, and anemic” (251). Observando deste ponto de
vista, é incrível a forma como este pensador conseguiu, numa fase tão inicial
da revolução eletrónica, visionar de modo tão preciso as repercussões das
iniciativas publicitárias.
Indubitavelmente, os argumentos do
autor revelam um elevado grau de preocupação em relação ao impacto do discurso
publicitário nos meios de comunicação social, que recorrem cada vez mais
forçosamente ao texto visual para garantir a assimilação da mensagem por parte
dos leitores. Termino citando as palavras de
Marshal McLuhan a este respeito: “Today it is inconceivable that any
publication (...) could hold (...) readers without pictures” (b.254).
Bibliografia
McLuhan, Marshall. “Ads: Keeping Upset with the
Joneses", Understanding Media: The Extensions of Man. pp. 250–257.
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