Keane e a duplicação


  Antes de fazermos o teste, queria lembrar um dos primeiros temas de que falámos: a publicação em massa. Nessa altura falei do "pintor" (ponho o título entre aspas por razões de que falarei mais adiante) Keane, que depois de ter aberto a sua galeria se apercebeu de que ninguém comprava os seus quadros apesar da forte afluência de público ao seu espaço comercial. No entanto, os visitantes pediam para levar os cartazes da galeria, gratuitos, para terem a réplica de um Keane.
  Falemos então dessas réplicas. O público que frequentava a galeria não era a nata dos círculos artísticos. Era um público que simplesmente achava piada aos quadros com olhos grandes (que na época faziam furor na imprensa americana) e cujo poder de compra ou atenção a detalhes artísticos era muito reduzido. Para este público, ser a cópia 308902 imprensa em papel comum ou um quadro a sério era exatamente o mesmo desde que os olhos grandes e o nome Keane lá estivessem. O que decide então fazer Walter Keane? Cobrar pelas cópias. Assim, não só as réplicas estavam na boca do mundo e em múltiplos postos de venda, como também se tornaram uma fonte de rendimento maior do que os  originais. A reprodução em massa tomou o lugar do original.
  Mas quem foi Walter Keane e por que é ele um "pintor" e não um pintor? Porque este homem, como indica a entrada na Wikipédia quando pesquisamos o nome dele, foi uma fraude. Todos os quadros dele foram na verdade pintados pela mulher, Margaret, que assinava com o nome Keane porque,  num dia em que foi vender os quadros, Walter assumiu o papel de artista. Margaret, pensando que seria uma situação temporária e economicamente favorável, aceitou não sabendo que Walter nem pintor era. Felizmente, como se pode ver no filme Big Eyes, de Tim Burton, Walter foi exposto alguns anos depois e Margaret pôde viver a sua vida como sempre quis: a pintar o que a fazia feliz como hobbie e rodeada pela alegria da sua filha.

Henrique Albuquerque
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Comments

  1. Ao longo da história, a autoria de obras de arte tem vindo a ser falsamente atribuída a homens, tradicionalmente considerados mais criativos e capazes. Na literatura, em particular no século XIX, quando começa a haver espaço cultural para a emergência de mulheres artistas, a assunção de pseudónimos masculinos testemunha esta tendência.

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  2. Precisamente, e isso aliado a uma questão de oportunidade foi o que levou ao início desta história.

    -Henrique Albuquerque

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