Anúncios atrás das redes sociais

Cruzei-me, há pouco tempo, com um artigo que dava a conhecer um casal que vive de anúncios através da rede social Instagram. Entrando um pouco mais no anúncio, lendo, inclusive, os excertos de uma entrevista, entende-se que o casal - Jack Morris e Lauren Bullen - ainda na casa dos vinte anos, dedicam a sua vida a viajar pelo mundo promovendo marcas e destinos turísticos.
O casal revela que Jack Morris já lucrou 8.434€ e Lauren Bullen 7.028€ por fotografia. O preço mínimo que ambos cobram por uma fotografia ronda os 3.000€ - valor que, saliento, é considerado baixo pelas agências que os contratam para os anúncios mascarados. As suas contas de Instagram passam uma imagem de espontaneidade, contudo, e cito, "Às vezes é um trabalho, e temos de tirar fotos às coisas que nos dizem".


Este método de marketing remete para o texto de Jib Fowles, "Advertising's Fifteen Basic Appeals". Neste caso identifico dois tipos de apelo — sensações estéticas e necessidades fisiológicas. As fotografias do casal, que vendem mais descaradamente destinos do que propriamente marcas, são metodicamente pensadas, de forma a que a beleza do local, articulada com as técnicas fotográficas usadas para o retratar, seja uma combinação perfeita, seduzindo assim o público-alvo. Jack Morris explica que as fotografias são tiradas cerca de uma hora depois do nascer do sol para que não haja excesso de pessoas no cenário.
O trabalho do casal apela também às necessidades fisiológicas, pois em variadas fotografias, Morris e Bullen estão não só num local paradisíaco como a meio de uma refeição — parece-me que até os alimentos são cuidadosamente escolhidos, pois as cores da comida estão sempre em perfeita sintonia com as cores do cenário. Ainda relativamente à tipologia das necessidades fisiológicas, é importante referir que ambos começaram os seus projectos a solo, mas, a partir do momento em que se tornaram um casal, os contactos por parte de agências aumentaram, o que me leva a crer que as agências publicitárias usam também o apelo ao sexo através do casal jovem e atraente.



Deixo aqui os links das contas de Instagram de Morris e Bullen para que possam ver e tirar as vossas próprias conclusões — Lauren Bullen e Jack Morris.

Inês Morais. nº 146160

Comments

  1. Na minha opinião este tipo de situações é tão evidente hoje em dia. Esta noticia faz me lembrar o sucesso que o casal Jay Alvarrez e Alexis Ren fizeram há cerca de um ano (sim porque hoje em dia já nem estão juntos). O casal era pago para tirar fotos em sítios paradisíacos, em grandes viagens e mostravam ser o casal perfeito, tal como estes. Faziam todo o tipo de desportos radicais e publicavam vídeos e tudo no instagram, tendo ele agora 5,1 milhões de seguidores e ela 8,4 milhões!!
    Isto mostra de facto a influência que a publicidade e as redes sociais têm hoje em dia. Em poucos meses estas pessoas ficam conhecidas a grande escala e vivem disto, literalmente. Como eles existem cada vês mais jovens a ‘’tentar’’ este tipo de coisas pois olham para as fotos destas pessoas e pensam: ‘’bem, que vidas perfeitas, viajar, tirar fotos, também quero’’, contudo por trás desta faceta ‘’bonita’’ e do ‘’tão amorosos que eles são’’ acho realmente uma coisa super forçada. Demonstram para as pessoas que se amam e que são o casal perfeito e muitas das vezes a realidade nem é essa, porém, nós (ou neste caso as pessoas que seguem e acompanham á risca a vida destas pessoas) ciram expectativas, invejam as vidas e vivem quase a relação deles mesmo porque deixam se levar por tudo o que aparece.
    É a realidade dos jovens no século XXI.

    Inês Pires, n:52357

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  2. Concordo com tudo o que aqui foi dito, não só com a maneira como estes media têm sido utilizados para fins de marketing mas especialmente pela maneira como são utilizados. Quando vemos um anúncio sabemos conscientemente, ainda que sejamos alienados pelo mesmo, que aquilo é isso mesmo, um anúncio, quando vemos numa página de facebook ou de instangram fotos que não são mais do que anúncios mas ainda assim se apresentam como fotos casuais do dia-a-dia, não estamos conscientemente informados ou alertados para isso, o que torna cada vez mais o real e o que não é real, perdoem-me a redundância, realidades cada vez menos desassociáveis e difíceis de diferenciar. Daí advêm as frustrações que a Inês referia, a ideia de que "se a pessoa X ou Y pode ter uma vida tão perfeita, eu também posso", quando na verdade essa perfeição é pura fachada, para mim, para o modelo, para todos. Aqui vamos convergir com a questão tão abordada pela pop art, tudo deixou de ser o que é para ser uma representação de si mesmo.

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  3. Grata, Inês Morais, pela partilha, e Inês Pires e Margarida, pelos comentários. De facto, no mundo contemporâneo são cada vez mais indistintas as fronteiras discursivas. Ou seja, as redes sociais aparentam testemunhar a componente autobiográfica dos seus autores, mas tornam-se cada vez mais fruto de elaborados esquemas comerciais. Remetendo para a Pop Art, esboroam-se as fronteiras entre espaço privado e espaço comercial. A publicidade joga, assim, com a ilusão de espontaneidade para fomentar sonhos de juventude eterna e de riqueza desligada de trabalho — ao preço invisível de viagens e hotéis sobrepõe-se a narrativa de felicidade e erotismo, à medida que estes casais super estrela viajam pelo mundo.
    Como já foi várias vezes referido em aula, será a nossa consciência crítica que nos pode alertar para este tipo de falcatruas, alimentadas por agências de viagens, relógios e outras quinquilharias (como evidencia uma consulta rápida às contas do casal mencionado no post).

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