Meghan Trainor_"All about the bass"

Apesar de esta música já ter sido lançada em 2014, penso que se enquadra bastante bem nos temas que temos vindo a desenvolver em aula e por essa mesma razão decidi publicá-la.

Como sabemos existe desde sempre o estigma de que a mulher deve obedecer a determinados parâmetros de beleza, nomeadamente, desde a década de 1960s, ser magra. Esta ideia permanece nos dias de hoje, aplicando-se a várias faixas etárias.

Numa entrevista, a cantora Meghan Trainor diz o seguinte a este respeito: "Eu cresci em Nantucket, Massachusetts, e jogava futebol na escola. As minhas amigas eram magras, bonitas e populares, e eu era meio 'a menina gorda'. Um rapaz por quem eu me apaixonei no sétimo uma vez disse-me: 'Serias muito mais bonita se tivesse 10 quilos a menos'. Isso maggou-me. Mas sempre que eu dizia 'sou gorda', a minha mãe respondia— e ainda me diz: 'Meghan, precisas de parar. És bonita. Aproveita isso agora antes que fique velha, olha para o teu passado e pergunta-te a ti mesma:  'porque é que eu não me amo?'".

Esta realidade exemplifica o que muitas raparigas sofrem, principalmente na escola, onde são comparadas com as colegas e, quando têm um pouco mais de peso do que o que é visto como ‘’normal’’, desvalorizam-se e  alimentam a ideia de que isso não está certo e deve ser mudado. Mas será realmente assim?  A minha resposta é não. Cada um é livre de ser como se sente bem. Podemos argumentar que o peso excessivo é prejudicial para a saúde e traz consequências negativas? Sim, claro; mas isso é outro assunto. De facto, na verdade tal não deve ser motivo para nos ridicularizarmos ou  para nos sentirmos inferiorires.

Meghan diz também que uma das razões de querer passar esta ideia para as raparigas se deve também ao faco de ter ficado chocada com a reportagem que passou no programa "The Ellen DeGeneres Show" quando se apresentou uma modelo que foi graficamente editada no Photoshop para ter "braços extralongos". Segundo a cantora, este evento mostra quão fora de controlo está a situação e representou a oportunidade perfeita para passar a mensagem de que não há nada de errado em ter curvas e todas as mulheres são perfeitas.

No videoclip (que peço que vejam porque está realmente engraçado) aparecem várias mulheres, todas elas fisicamente diferentes e representando a ideia de que uma mulher com curvas também tem "power’’. Para mais, ridiculariza-se a imagem do homem apresentado como um ‘’Ken’’, aparentemente perfeito, para combinar com a sua namorada Barbie. Na minha opinião, o estigma é realmente quebrado quando a cantora deita a Barbie fora, criticando implicitamente a ideia de que, além de ter de ser parecida com aquela boneca, uma rapariga também tem que brincar às casinhas.

Para finalizar deixo-vos com o link do videoclip.

E com algumas fotografias do mesmo.














INÊS PIRES, Nº 52354


Comments

  1. Infelizmente este ideal de termos de ser "magras" para sermos bonitas ainda está muito longe de desaparecer. Ultimamente tenho refletido no facto de em todos os filmes que vejo, sejam eles de ação, romance ou comédia, a "leading lady" é sempre uma mulher ou uma adolescente completamente de acordo com o ideal, ou seja, são bonitas e magras. Portanto, os filmes de hoje em dia, que têm uma abrangência mundial, não só propagam uma ideia contorcida da realidade, porque nem todas somos loiras, de olhos azuis e magras, mas também propaga a noção de que só existe este tipo de beleza. Obviamente que este problema se estende ao longo de várias outras indústrias da cultura, mas, pessoalmente, pois tenho um grande amor ao cinema, gostaria de começar a ver outros tipos de raparigas nos filmes, sem ser aquela rapariga que parece sempre a mesma, pois muitas vezes comparo-me com aquela personagem, que é só isso e acabo por ficar com o auto-estima um pouco em baixo, o que é ridículo porque como podemos comparar-nos a algo que não é real? Por isso, gostava de ver algo real como a Meghan Trainor nos mostra.

    Melanie Rodrigues

    ReplyDelete
  2. Grata, Inês, pela partilha. Grata, Melanie, pela reflexão.

    Vejo pela primeira vez a Meghan Trainor o que me coloca numa postura mais "neutral" relativamente à mensagem aqui apresentada. Paradoxalmente, a artista parece fazer uma crítica ao mundo perfeito da Barbie e, no entanto, através do guarda roupa escolhido, por exemplo, recria esse mesmo universo. O mesmo se passa no vídeo "Dear Future Husband" (que acabei de ver, em modo de pesquisa). Ou seja, se por um lado é interessante a crítica a um modelo corporal manipulado e irrealista, por outro há aqui uma enorme ambivalência, pois a cantora apresenta-se de acordo com parâmetros de beleza semelhante aos da Barbie Doll — muitíssimo maquilhada, com um guarda roupa algo infantil (uma tendência contemporânea curiosa, em que as mulheres jovens se vestem como crianças da década de 1950).
    Como negoceiam as indústrias da cultura a tensão entre mudança e permanência? Como sublinha a Melanie, os filmes 'mainstream' continuam a privilegiar um tipo físico estereotipado e recorrente e sabemos que o mesmo sucede com as revistas de moda.

    ReplyDelete
  3. "Como sabemos existe desde sempre o estigma de que a mulher deve obedecer a determinados parâmetros de beleza, nomeadamente, desde a década de 1960s, ser magra. Esta ideia permanece nos dias de hoje, aplicando-se a várias faixas etárias."

    Queria pegar neste excerto do teu post e dizer que concordo inteiramente. Infelizmente estes padrões de beleza estão muito longe de serem mudados, nomeadamente no que toca ao físico, e penso que nenhuma das indústrias ligadas à cultura tenha presente algum objectivo de mudar isso. Esses parametros são o que fazem as pessoas comprar e consumir, seja música, teatro, etc. Vejo por exemplo no meio em que já estou inserida há alguns anos, o teatro musical, em que, ainda que não escrito e estipulado, o factor de peso/forma corporal tem um enorme peso na escolha de personagens, nomeadamente personagens principais. Actrizes que são desqualificadas para uma personagem porque não são magras o suficiente ou não tem determinado tipo de corpo, quando supostamente não está escrito em lado nenhum que a personagem tem de ter este ou aquele tipo de corpo. Num meio em que supostamente as qualificaçoes artisticas (voz, representação, etc) deveriam estar em primeiro lugar.
    (se alguém quiser ler sobre um assunto, há um post bastante interessante neste site: http://www.onstageblog.com/columns/2017/5/8/broadway-needs-to-re-think-their-size-issue)

    Achei realmente interessante também o facto de a Meghan Trainor ter escolhido bailarinas com um tipo de corpo parecido com o dela e não bailarinas convencionais.



    Mariana Vaz Pinto

    ReplyDelete
  4. Eu creio que a mensagem da música é importante, eu própria comprei o álbum da cantora, contudo, após escutar várias vezes há algumas coisas que me deixam desconfortáveis. Por exemplo na música "All About That Bass", em questão, há uma passagem que diz que ser mais cheinho é bom porque se tem o "bumbum" que todos os rapazes procuram ou porque a mãe lhe disse que os rapazes gostam um mais um pouco de "rabiosque" para se agarrem durante a noite. Trainor vai acabar por objectificar a mulher de uma outra maneira relacionada com o corpo. O facto de chamar "c*bras magras" às raparigas com um outro tipo de constituição também acaba por ser prejudicial uma vez que existem vários tipos de corpo e nenhum deve de invalidar o outro. Eu percebo o objectivo da música mas tem infelizmente algumas passagens infelizes.
    Patrícia Cândido 52119

    ReplyDelete
  5. Sendo a música um elemento cultural de enorme peso no moldar de mentalidades, acho crucial que artistas a quem é dada um voz influente se sirvam desse seu papel para criar consciência nas pessoas que os acompanham. É realmente importante que, através da música, se possam defender ideologias contra qualquer tipo de discriminação; ideologias que apelem aos valores sociais que visam o bem da comunidade no seu todo. É uma prova de que o medium não tem necessariamente ser sinónimo de negativo!

    Inês Morais 146160

    ReplyDelete

Post a Comment

Popular posts from this blog

Role reversal

America's Next Drag Superstar!

"Chinese Female Kung-Fu Superheroes" _more poems on Barbie