Teste_Linhas de leitura
Por favor, leiam os comentários às vossas respostas em diálogo com a proposta interpretativa que aqui deixo, de modo a poderem consolidar a aprendizagem iniciada com este exercício incluído na proposta de avaliação. Grata pelo vosso empenho!
I
“Although
the heroic notion of symbolic resistance to
dominant culture may shape fans’
definition of authenticity in popular culture (…), a number of studies have suggested that much of what is
taken to be subcultural
resistance is manufactured
by the consumer
industry”
Peterson, Richard A. and N. Anand. “The Production of Culture
Perspective”, Annual Review Sociology, 2004. 30: 311-334. 326.
Comente este excerto, tendo em conta as dinâmicas de apropriação que marcam a indústria publicitária contemporânea.
As
indústrias da cultura mercantilizam sistematicamente estratégias de resistência
através da adoção de estilos comportamentais (vestuário, penteados,
corporalidade, jargão...) associados a grupos da subcultura (com maior ou menor
empenho numa efetiva contestação política). O processo é recorrente, quando as
corporações adotam o estilo dissidente (já espalhado entre outros grupos
fascinados pelo cool, mas não
necessariamente empenhados em assumir o risco da marginalidade) e o começam a
comercializar, levando as massas a crer que, através da compra, se envolvem num
processo de “resistência simbólica”. Na verdade, neste estágio, o caráter
rebelde dos estilos diferenciados do modelo hegemónico já se encontra
“saneado”, desprovido de qualquer impacto crítico, embora os fãs creiam na
“autenticidade” dos produtos que consomem. Assim, o sistema das indústrias da
cultura transmuta e incorpora a diferença, reificando-a e reproduzindo-a como
objeto de consumo das massas, canalizando assim o descontentamento da
juventude, convencida da autenticidade das suas escolhas, de forma segura e
rentável.
·
Exemplo publicidade EUA
II
Analise a obra reproduzida, considerando os pressupostos
políticos da Arte Pop nos EUA.
Andy
Warhol, The Last Supper. Tinta plástica
sobre tela, 1986.
MoMA
Obra
Monumentalidade
(3 por 6 m), técnica de pintura (vs. serigrafia). Reprodução de A última ceia de Leonardo da Vinci, um
fresco do refeitório do convento de Sta Maria Maior, em Milão, que tem gerado
inúmeros comentários críticos. Esta obra de arte maior do cânone da pintura
ocidental é pintada como um esboço, para sobre ela se sobrepor uma etiqueta de
preço e dois logótipos de gigantescas corporações estado-unidenses, de
cosmética (com a pomba sobre a cabeça da figura de Cristo representando o
Espírito Santo) e de eletrodomésticos (General Electric). É interessante notar
como os logos obliteram as figuras humanas e são representados com uma
proporção gigantesca relativamente a elas, o que comentará o modo como o
sistema capitalista sobrepõe os interesses financeiros a tudo o resto, apagando
massas humanas ao serviço do lucro. Para mais, esta opção estilística alude ao
facto de que o discurso publicitário ocupa um lugar cada vez mais proeminente
na cultura contemporânea.
Sendo
católico ortodoxo praticante, Warhol estaria a comentar a ausência de
espiritualidade no mundo contemporâneo e ainda a mercantilização da arte,
associada a e promovida por interesses comerciais / consórcios financeiros. O
baixo valor atribuído à obra comenta a banalização da arte e o facto de que, na
cultura capitalista, tudo ter um preço, tudo poder circular como mercadoria.
A arte Pop
comenta ironicamente a progressiva mercantilização da experiência, estruturada
através do ato de consumo, que retira aos cidadãos o potencial de intervenção
política. Reproduzindo imagens da cultura popular (oriundas das indústrias da
cultura cinematográficas ou da publicidade e do marketing), os artistas Pop,
muitos deles oriundos do universo publicitário, problematizam a lógica
capitalista e hiperbolizam os seus paradoxos.
Warhol é
uma figura icónica da arte Pop, importante não só por ter implementado meios de
reprodução mecânica (serigrafia) que replicam a multiplicação de imagens nos
meios de comunicação social e na publicidade. Esta estratégia, juntamente com a
execução comunitária destes trabalhos no seu estúdio ironicamente intitulado “The
Factory”, esboroam a ideia do artista como génio. Empenhado em questionar a
possível equivalência entre os objetos de consumo (sejam materiais ou
simbólicos, tais como as latas de sopa Campbell e a Coca-Cola, ou as estrelas de cinema e as imagens do jornalismo
de grande circulação) e obras de arte, Warhol contribui para esboroar
definitivamente a distinção modernista entre arte erudita e popular.
Mais
informação sobre esta série em Jessica Beck, “Andy Warhol: Sixty Last Suppers”,
Gagosian Quarterly, Summer 2017
https://gagosian.com/quarterly/2017/05/01/andy-warhol-sixty-last-suppers/
Joselit, David. “The Media Public Sphere: Pop
Art and Beyond,” American Art since 1945, Thames & Hudson, 2003,
64-95.
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